05/06/2019

Artigo FG

Dia do Meio Ambiente, comemorar o que em Parnaíba? (*)
O município de Parnaíba – PI localiza-se na bacia hidrográfica do Rio Parnaíba, este que se divide em vários braços formando o belíssimo Delta do Parnaíba, o único em mar aberto das Américas e o terceiro maior do mundo, só perdendo para o do Nilo, no Egito; e o do Mekong, no sudeste asiático. Uma das cinco barras é o rio Igaraçu, único em solo piauiense, as outras quatro barras: Canárias, Caju, Melancieiras e Tutóia, ficam do lado maranhense.
No que pese a importância da biodiversidade local, seus atrativos naturais, Parnaíba – PI possui muitas potencialidades, além de contar com uma localização geográfica privilegiada. Desponta como uma das mais belas cidades do meio norte do Brasil e com perspectivas de crescimento e destaque em diversas áreas da economia, cultura e meio ambiente.
O município está inserido dentro de uma Unidade de Conservação Federal, a APA Delta do Parnaíba, apesar de tudo isso, a gestão local não tem investido em novas estratégias para o desenvolvimento sustentável. Predomina a velha prática política do compadrio e improvisação!
Mas é preciso vencer essa mácula administrativa que o município enfrentou e enfrenta em sua história, com poucos casos a se excetuar. Parnaíba mergulhou em sucessivos problemas de gestão que se caracterizam por um modelo que mais se assemelha ao mandonismo e coronelismo. Um modo de “fazer política”, de cuidar da “coisa pública”, embasado geralmente na associação estabelecida dos profissionais da política com práticas patrimonialistas, com domínio familiar, com laços de dependência e reciprocidade com o poder central, com resquícios de instrumentos tradicionais de mando político.
O momento atual exige a divisão de competências que deve incluir novos modelos de gestão, com novos componentes nas políticas públicas e relações integradas entre os setores públicos (nas três esferas de poder) e o privado. A participação e o controle social devem ganhar contornos propulsores da governança local, com foco na dimensão socioambiental.
Por isso, Parnaíba carece de intervenção! E a questão ambiental pode ser o eixo norteador da construção de um novo modelo de gestão que se alinhe à sustentabilidade. Esta é o paradigma do mundo moderno que põe em xeque o atual modelo de organização da sociedade que privilegia o aspecto econômico em detrimento do social e do ambiental. Pressupõe um alinhamento entre estas três dimensões de forma a atender uma qualidade de vida às presentes e futuras gerações, enquanto ação ideológica que cuida das pessoas, utiliza os recursos naturais com racionalidade e promove o desenvolvimento econômico. Mas, por que isso não acontece?
Talvez aqui encontremos resposta para muitas perguntas que estrategicamente não são reveladas. A principal delas é entender porque a questão ambiental é vista e, às vezes, defendida pelos governos e governantes como algo da esfera preservacionista, meramente. Ou seja, falar de meio ambiente é cuidar dos bichos, das matas, dos rios, enfim, dos recursos naturais. Gente? Nem se fala!
Sabe-se, no entanto, que falar da questão ambiental é isso e muito mais, é falar também do esgoto que corre a céu aberto nas ruas; da “carne da moita” que é comercializada na cidade; do lixo que às vezes é jogado na rua pelo próprio cidadão e quando coletado, muitas vezes é lançado de forma incorreta na sua disposição final; é falar de um sistema de saúde falido e que não atende a quem precisa de cuidados médicos básicos; é falar de uma educação que não forma para a cidadania, quando muito leva instrução a uns poucos; é falar da representação política que não tem qualidade, que não defende os interesses coletivos; do avanço das drogas, da miséria e da fome, da violência, do desemprego, da aculturação, das discriminações...
Vê-se que falar da questão ambiental enfocando a qualidade de vida humana pode mudar o rumo. Por isso mesmo é “perigoso”! O perigo está na possibilidade de as pessoas perceberem que o que está errado é a forma como estamos (des)organizados e que é possível implantar um modelo diferente. O que levaria a questionar toda a ordem estabelecida e por fim a sua substituição. Utopia? Não. Tarefa difícil sim! Pois o “sistema” bem estruturado oferece resistência que passa pela manutenção da pobreza (alimentando a dependência estratégica da maioria) e pelos processos de corrupção (financiando as atividades ilícitas).
Parnaíba está embasada num conjunto de pressupostos culturais arraigados. Mudando esses pressupostos, muda também o conjunto de possibilidades, com consequências importantes também na esfera social. No dia do meio ambiente vamos pensar na possibilidade de um novo modo de organização social capaz de transformar o conjunto da sociedade, o seu pensar e seu agir frente às questões socioambientais. Vamos comemorar?!

(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.

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