A “Velha Política” e a escravidão em nova roupagem! (*)
Esses dias assisti um documentário na Globo News muito esclarecedor sobre as verdades sobre a escravidão que a história oficial brasileira camuflou. O modelo de exploração daquela página triste de nossa história e as suas consequências nefastas ao povo desprotegido se assemelham ao que é hoje promovido pelo sistema político em voga.
Esclareço. Nos tempos atuais as elites que controlam os poderes dominantes se comparam aos senhores do café e açúcar dos séculos passados. A prática de exploração e manutenção dos mecanismos de controle social é manejada para que não haja mobilidade social. Escravidão em nova roupagem: indivíduos sem educação, sem saúde, sem trabalho e sem moradia ficam reféns de um sistema que os mantém acorrentados a favores espúrios, muitas vezes negociados no voto!
A favela é o grande quilombo! Pretos e brancos sem dignidade e sem voz nas periferias das cidades revelam a magnitude da perversidade da exclusão social imposta pelo modelo político oligárquico que se impõe ainda em nossos dias. Prova de que a escravidão persiste. A abolição é uma farsa!
A periferia é uma festa, assim como era o quilombo. Apesar de tantos “nãos”, de tanta dor que os invade, os moradores humildes fazem a alegria da cidade. Distraem-se com suas novelas, o futebol e o carnaval. Por isso, o “pão e o circo” funcionam tão bem!
Pode ser uma comparação esdrúxula, mas o fato é que experimentamos uma tragédia inspirada nos moldes do regime escravocrata que imperou durantes séculos em nosso país. O que está ocorrendo nos dias de hoje é igualmente um massacre: crianças famintas com o seu desenvolvimento comprometido, jovens sem perspectivas, velhos desamparados, exploração da força de trabalho, violência, drogas e prostituição como fuga para o drama social imposto a essas pessoas invisíveis ao poder público.
A cultura da escravidão expõe: negros que ficavam na margem da sociedade para servir os senhores que estavam no centro. A cultura política dominante: pobres pretos e brancos que vivem sob condições análogas à escravidão para servir à elite que controla o poder. Como sair da margem?!
A lógica do poder e dos mecanismos de controle naturalizam no imaginário social que os pobres precisam de proteção. E quem pode protegê-los? O Estado. Quem representa o Estado? As elites dominantes. O fim dessa história já é conhecido: mais exclusão e concentração de poder familiar.
A gravidade do problema a ser enfrentado precisa encontrar caminhos de mobilização. Foi assim nos anos de luta pelo fim da escravidão. Participar do privilegiado espaço social que toma as decisões políticas é algo distante a quem não pertence à “Casa Grande”. O poderpermanece cercado por muros que excluem os que não estão alinhados aos Senhores. Porém, nada é intransponível.
Todo político é beneficiário deste modelo concentrador e excludente, mas nem todos os políticos são signatários desse modelo. É preciso então, que esses políticos não signatários se envolvam num projeto de “abolição” do povo parnaibano. Primeiro a liberdade, nada sem a liberdade, tudo pela a liberdade!
Parnaíba precisa romper os laços escravocratas que aprisionam as mentes e as liberdades! Onde estão os “abolicionistas”? Quem se atreve?! A situação de crise em que vivemos pode revelar novos atores políticos que não os ditos tradicionais, mas que não estão conectados com a liberdade da sociedade.
Alguns instrumentos legais apoiados na Constituição Federal de 1988 apontam para a democratização, mas não basta a norma, é preciso que as pessoas se apropriem da causa e derrubem o sistema que os escraviza, que os atrasa, que os oprime! Nada mudou, é preciso mudar. Carecemos de reparar os erros. Igualmente no período em que a escravidão era “legal” algumas leis foram sancionadas, mas não pegaram: Lei Feijó de 7 de novembro de 1831, que decretou a extinção do tráfico de escravos e devolução à África dos negros que entrassem no Brasil a partir daquela data; A “Lei do Ventre Livre” nunca pegou.
Outro aspecto importante e que não se pode negligenciar ao refletir sobre este tema é a forma de intervenção externa que a Parnaíba sofre. Teresina influencia e decide muito os rumos políticos da cidade. Igualmente, as decisões tomadas na Corte Imperial tinham repercussão e influência direta nas vilas, nas fazendas de café e açúcar. Quando muito, apenas os “Coronéis” eram consultados sobre as questões que iriam definir a vida de todos. A elite política do estado impõe seus interesses à Parnaíba! Pode soar duro, mas os parnaibanos não decidem os rumos da Parnaíba!
Este é um modelo sofisticado de escravizar as pessoas que ainda persiste. Ruy Barbosa(1884) pontificou: “A emancipação é um princípio de interesse universal, e a existência do elemento servil, uma abominação moral, um núcleo de corrupção na vida política e doméstica”.
A Casa Grande já surta quando a Senzala aprende a ler, imagine quando tomar o poder!
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.
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