ESPECIAL MULHER
Com o passar dos anos, as mulheres foram conquistando mais espaço em diversos segmentos da sociedade, em especial no campo de trabalho. No entanto, a realidade ainda está longe de ser ideal e justa. De acordo com dados do estudo “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça”, com base em séries históricas de 1995 a 2015, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, as mulheres trabalham em média 7,5 horas a mais que os homens por semana. Em 2015, a jornada total média das mulheres era de 53,6 horas, enquanto a dos homens era de 46,1 horas.
Os dados da pesquisa foram divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) nessa segunda-feira (6). De acordo com o relatório, em relação às atividades não remuneradas, mais de 90% das mulheres declararam realizar atividades domésticas – proporção que se manteve quase inalterada ao longo de 20 anos, assim como a dos homens (em torno de 50%).
“O fato de exercer atividade remunerada não afeta as responsabilidades assumidas pelas mulheres com as atividades domésticas, apesar de reduzir a quantidade de horas dedicadas a elas. É o que chamamos de dupla jornada. Muitas foram as conquistas alcançadas, mas para garantirmos a eficácia plena, assim como a ampliação desses direitos, a luta das mulheres tem que ser permanente, para que de fato e de direito sejamos tratadas como cidadãs plenas”, ressalta Soraya Lima, auditora fiscal do trabalho e presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais do Trabalho no Piauí (Sinait-PI).
Apesar de, proporcionalmente, o rendimento das mulheres negras ter sido o que mais se valorizou entre 1995 e 2015 (80%), e o dos homens brancos ter sido o que menos cresceu (11%), a escala de remuneração manteve-se inalterada em toda a série histórica: homens brancos ainda têm os melhores rendimentos, seguidos de mulheres brancas, homens negros e mulheres negras. A diferença da taxa de desocupação entre gêneros também foi destacada pela pesquisa. Em 2015, a desocupação entre as mulheres era de 11,6%, enquanto a dos homens atingiu 7,8%. No caso das mulheres negras, ela chegou a 13,3% (e 8,5% para homens negros).
Crescimento do número de mulheres chefes de família
Os lares brasileiros, cada vez mais, estão sendo chefiados por mulheres. Em 1995, 23% dos domicílios tinham mulheres como pessoas de referência. Vinte anos depois, esse número chegou a 40%. “As famílias chefiadas por mulheres não são exclusivamente aquelas nas quais não há a presença masculina. Em 34% delas, por exemplo, a pesquisa detectou a presença de um cônjuge”, acrescenta Soraya Lima.
De acordo com o IPEA, a quantidade de trabalhadoras domésticas com até 29 anos de idade caiu mais de 30 pontos percentuais no período analisado: de 51,5% em 1995 para 16% em 2015. No entanto, o emprego doméstico ainda era a ocupação de 18% das mulheres negras e de 10% das mulheres brancas no Brasil em 2015. Já a renda das domésticas saltou 64% nesses 20 anos, atingindo o valor médio de R$ 739,00 em 2015. O número de trabalhadoras formalizadas também aumentou: se, em 1995, 17,8% tinham carteira, em 2015 a proporção chegou a 30,4%. Mas a análise dos dados da Pnad sinalizou uma tendência de aumento na quantidade de diaristas no país. Elas eram 18,3% da categoria em 1995 e chegaram a 31,7% em 2015.
Thamirys Viana
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