19/10/2015

Artigo FG

A Prefeitura e o IHGGP: de costas pra nossa história! (*)
 O Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Parnaíba - IHGGP é uma instituição sem fins lucrativos, fundada em 13 de janeiro de 2000 por um grupo seleto de pessoas que tinham como foco preservar a rica história e a extraordinária cultura parnaibana. Desde agosto de 2004 o IHGGP está instalado num soberbo edifício colonial, um sobrado bicentenário que é pura história. Segundo estudos mais recentes, sua construção é do final do século XVIII para servir de quartel da vila de São João da Parnaíba.
Parnaíba tem um patrimônio material e imaterial muito diverso e especial. No entanto, a maior parte do patrimônio material carece de restauração. É preciso uma política pública séria e urgente que resgate essa cultura. Um dos prédios que ilustra o descaso com nossa história é onde funciona o IHGGP, espaço que abriga também a Biblioteca Pública Municipal.
O potentoso prédio localizado na rua Duque de Caxias com a São Vicente de Paula é um dos mais antigos da cidade. Conserva ainda o típico aspecto colonial do século XVIII. Depois que serviu de quartel, teve como seu primeiro morador e proprietário, o coronel Manoel Antônio da Silva Henriques, português, comerciante, e sobrinho de Domingos Dias Da Silva. Pesquisas recentes comprovam que o sobrado foi requisitado para ser a sede da antiga “Companhia de Aprendizes de Marinheiros” por volta do ano de 1880, porém tal intento não foi concretizado. 
Em 1918 serviu de Sede do Banco do Brasil, 1ª casa de crédito da cidade, a 23ª agência do país.
No seu andar superior funcionou no período de 1927 a 1979, o educandário, “Grupo Escolar Miranda Osório”. No mesmo período funcionou no seu andar térreo, a distinta casa comercial “Tote Machado”, especialista em artigos masculinos importados, como: chapéus, gravatas, ternos, cortes de linho, e os famosos sapatos da marca Polar.
Pertenceu a uma linda e elegante dama da sociedade, Dona Auta, que viveu um grande sonho de amor. Sabe-se da história que amou perdidamente um imigrante europeu e, com sua partida, viu o seu sonho frustrado. A partir dessa desilusão não saiu mais de casa, ficando reclusa a uma pequena saleta que mandara construir no alto do prédio para que pudesse ficar olhando a chegada das embarcações, diariamente, para ver se seu amado voltava.
Após esse período de esplendor, e, com a decadência do velho Centro Comercial de Parnaíba, o majestoso Sobrado de Dona Auta, que chegou a abrigar um restaurante e uma boate, viveu dias escuros, no ostracismo absoluto! Até que em 2001 foi adquirido pela Prefeitura Municipal, que de imediato cedeu parte do seu pavimento térreo para a Biblioteca Municipal – que antes disso vivia constantemente mudando de endereço –, e o restante do prédio, para a sede definitiva do IHGGP. 
Desde outubro de 2006, o sobrado de Dona Auta foi tombado pelo governo estadual. E, em 18 de abril de 2001, o então prefeito Paulo Eudes Carneiro sancionou a Lei Nº 1.781 desapropriando o prédio para abrigar: o IHGGP, o Museu da Cidade, a Secretaria de Cultura e o Centro de Línguas. Da finalidade imposta em lei, apenas o IHGGP foi instalado lá e, sob condições precárias.
Apesar de tombados como Patrimônio Histórico e Cultural pelo Ministério da Cultura, através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN e devido a omissão do órgão em Parnaíba, os casarões que guardam a história da Parnaíba estão sendo desgastados pela ação do tempo e do homem, correndo o risco de desabar. Entre eles, o sobrado de Dona Auta. Em resposta a esta necessidade, o IPHAN apresentou um projeto de recuperação do chamado Complexo Turístico Porto das Barcas pelo PAC Cidades Históricas, estimado em R$ 38 milhões.
Enquanto não chega esse dinheiro, como proprietária do imóvel, a Prefeitura Municipal de Parnaíba deveria realizar obras de conservação para evitar o literal tombamento do prédio, além do risco que se torna às pessoas que ali trabalham e procuram informações. A imprensa local e estadual já repercutiu a situação e nos últimos doze anos nenhuma reforma foi realizada.
“Trabalhar aqui é um risco. Nós sempre tememos que venha a desabar. São paredes antigas, de um prédio construído na metade do século XVIII e que abrigou de tudo, até mesmo Quartel Militar da Cavalaria, e por esta razão tem uma importância histórica para a cidade, mas a situação é deplorável”, afirma Reginaldo Pereira do Nascimento Júnior, Presidente do IHGGP. “Se não houver uma reforma antes do inverno o prédio corre o risco de tombar”.
Depois de muitos reclames uma comissão foi visitar o prédio (05 de outubro) composta pelo Secretário de Infraestrutura, Corpo de Bombeiros e outros assessores, o que terminou num relatório elaborado pelo Major Rivelino que determinou o isolamento das áreas afetadas e que oferece risco aos que trabalham lá voluntariamente e aos inúmeros visitantes que buscam no local conhecimento e descobertas.
Cuidar da história e do povo uma tarefa para homens livres e de bons costumes, aqueles que não são escravos de suas paixões, que não se deixam dominar pela torpeza dos seus instintos de fera humana.

(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.

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