CARTA ABERTA AOS MORADORES DE PARNAÍBA E CIDADES VIZINHAS
Como muitos de vocês, fui surpreendido com as notícias de suicídio dos últimos dias. Em primeiro lugar, quero manifestar a minha solidariedade às pessoas enlutadas neste momento de intensa dor. O meu cotidiano como psicoterapeuta e pesquisador de questões relacionadas ao suicídio e ao luto, acredito, me credencia a transmitir algumas informações através da mídia.
O suicídio é um fenômeno extremamente complexo, que desafia a nossa compreensão ao longo do tempo. Imagino como devem estar as especulações acerca dos motivos que poderiam ter causado tamanha tragédia. Minha sugestão é que deixemos isso para nos juntarmos no acolhimento às pessoas que estão em sofrimento, parentes, amigos, vizinhos e conhecidos. Atitudes como julgar, apontar “culpados”, especular, não ajudam em nada, em absolutamente nada. Mas, podem potencializar a dor daqueles que ora choram.
No suicídio não existe “causa e efeito”, ou seja, não ocorre por um único motivo. Sempre existe um caminho percorrido por aquele que tira a própria vida. O que se aponta como causa, normalmente é a “gota d’água”, o elo final da cadeia, de um processo.
A Organização Mundial de Saúde disponibiliza na internet uma cartilha destinada aos profissionais da mídia, ensinando como noticiar um caso de suicídio, o que deve ser dito, o que não deve ser dito e como dizer o que deve ser dito. Peço, encarecidamente, a todos que fazem a mídia em Parnaíba e cidades vizinhas, baixem e leiam esses apontamentos para evitar piorar o que já não está bom. Na dúvida do que noticiar, melhor se abster.
Pessoas vulneráveis podem ser prejudicadas. O suicídio acontece quando uma pessoa, em profundo sofrimento, não consegue mais enxergar saídas para “problemas” que se tornam “insuportáveis”, dentro da sua visão estreitada da vida naquele período.
Como um túnel que vai se fechando até não ter mais luz. Quando estes indivíduos procuram e conseguem ajuda, existe uma enorme probabilidade de saírem daquele estado e começarem a vislumbrar outras possibilidades e soluções que não a morte. Escutar e acolher é sempre a melhor receita.
Buscar ajuda de profissionais qualificados para este tipo de atendimento se faz necessário. Abaixo, disponibilizo os números dos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) de Parnaíba e outras cidades próximas.
Por favor, recorram aos profissionais quando perceberem que não estão mais conseguindo suportar um sofrimento. Existem outras alternativas que não seja tirar a sua vida. Tenho convicção de que podemos encontrá-las juntos, todos nós, quem sofre, família, escola, igreja, profissionais de saúde e comunidade em geral.
Aos familiares e conhecidos dos jovens que nos deixaram, direciono minhas orações e meus sentimentos. Infelizmente, não vejo o que falar nesses momentos, somente dizer que contem com quem esteja por perto. Espero destes, que, antes de ficarem simplesmente falando e falando, emprestem seus ouvidos e ombros para os enlutados. Essa é a maior contribuição que podem dar.
Um abraço,
Carlos Henrique de Aragão Neto
Doutorando em Psicologia Clínica (UNB). Pesquisador e Psicólogo especialista em Tanatologia (Luto e Suicídio). Membro – associado da Associação Internacional para a Prevenção de Suicídio (IASP)
aragao.neto@uol.com.br (86) 9914-3839
CAPS PARNAÍBA 86/3322-2090 e 3233-4640
LUIZ CORREIA 86/3367-1526
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