Futuro desejado: o fim da Parnaíba de poucos para poucos! (*)
A política parnaibana há muito tempo está determinada por um modelo de poucos para poucos. Famílias oligárquicas se alternam no poder, um ou outro fora da “origem”, mas com o apoio decisivo destas. Tudo em ordem, bem definido. Impossível chegar ao poder sem o apoio destas famílias?!
É preciso que os cidadãos reflitam sobre: como a política local se desenvolve? Como se inter-relacionam os políticos? Que consequências provocam? E, ainda, como dessa imbricação, a cidade compreende e vive a política? Quem compõe a elite política e oligárquica local? Como e por que as oligarquias permanecem tão vigorosas no controle do poder político sob um regime democrático?
Parnaíba foi e é importante no contexto econômico, social, político e cultural do estado do Piauí. Viveu o apogeu de ciclos econômicos num passado recente e nas últimas décadas experimentou a estagnação da sua economia. Do ciclo das charqueadas ao da cera de carnaúba a cidade se transformou. Registra a história que em 1781 abatia-se a média anual de 40.000 bois, exportava-se além do charque, o couro em cabelo e o meio de sola. Parnaíba era a única vila da província que industrializava o couro para exportação. Com a cera de carnaúba, James Frederick Clark pioneiro na exportação desse produto vegetal para a Europa que o industrializou, abriu grandes perspectivas para a economia piauiense.
Em 01 de junho de 1917 foi inaugurada a 23ª agência do Banco do Brasil, a primeira a se instalar em nosso estado, por aí se percebe a importância econômica de Parnaíba à época.
Ao tempo em que a cidade se destacava e se desenvolvia economicamente, se igualava às demais províncias que tinham o modelo oligárquico como base de sua gestão político-administrativa. Os critérios sociais (relações de parentesco no mundo da política, reprodução de famílias em posições políticas e partidárias, controle por parte de grupos familiares de recursos de poder políticos, etc.) e políticos (manutenção de “grupos políticos” em cargos por períodos longos, cooptação de lideranças, sucessões controladas, etc.) são combinados para justificar o modelo de dominação vigente e são mobilizados ao sabor dos interesses próprios que se fazem, desfazem e refazem constantemente.
Eis uma das explicações pelo atraso histórico conferido à Parnaíba nas últimas décadas: um modelo administrativo clientelista, com base na composição do domínio especializado da vida social e política através dos agentes que nele se especializam, designados como “elites”, profissionais e lideranças políticas, bem como suas interações com a “não-elite”, os profanos ou seguidores.
Sílvio Romero, em “As oligarquias e sua classificação” (1910) pontuou que “A verdade é que estamos divididos em clãs, com seus donos, em grupos, com seus chefes, em bandos, com seus cabecilhas: política, social, economicamente – é esse o espetáculo geral”.
Historicamente poucas famílias governaram a Parnaíba. Um recorte dos últimos 30 anos demonstra esta realidade onde apenas dois sobrenomes mantiveram o controle político da cidade, alternando-se no poder. Mão Santa foi eleito (1988-1991), passou para o Zé Hamilton (1992-1995) que rompeu com ele. Eleição seguinte Zé Filho (1996-1999) tomou dele e em seguida perdeu para Paulo Eudes (2000-2003). Zé Hamilton volta ao poder derrotando seguidamente o Júnior Mão Santa (2004-2007) e a Dona Adalgisa (2008-2012). Indica e elege o Florentino (2013-2016) contra o Mão Santa que, em seguida, toma a Prefeitura do Florentino (2017-2020). Portanto, o poder se alternou entre os Moraes Souza e Castelo Branco. Apenas dois prefeitos não são dessas famílias: Paulo Eudes e Florentino Neto, mas foram apoiados por elas.
Vê-se, com isso, o desalento pela dilapidação do capital ético da representação política da cidade. O que está faltando e sempre faltou foi uma elite dirigente com compromisso com a coisa pública, capaz de fazer na Parnaíba o que precisa ser feito: aplicar corretamente os recursos públicos!
Chega! Política não é profissão! Que nós, eleitores, possamos eliminar os oportunistas e aproveitadores na próxima eleição! Os “males” da sociedade são resultado da ordem social que nós mesmos criamos e que, por isso mesmo, podemos modificar. Para o bem da cidade está emergindo uma nova mentalidade a partir da consciência de que nós somos os criadores dessa ordem, somos os verdadeiros protagonistas. Então, rebelemo-nos!
Bons ventos sopram a favor da necessária mudança! A economia se dinamiza com investimentos privados impulsionados especialmente pelo avanço no campo da educação de nível superior com a decretação da Universidade Federal do Delta do Parnaíba, a instalação do Campus do IFPI e de faculdades privadas, além da UESPI instalada há algum tempo. A cidade vai se consolidando como polo de educação, impactando diretamente a construção civil e o comércio, alavancando o emprego, girando a economia.
Acredita-se que seja possível se fazer política diferente do que está aí. Como? Governando com os melhores, com base em programas; defendendo o empoderamento e a inclusão social; estimulando o controle e a participação social; e tomando a sustentabilidade por base de toda a ação governamental, prioritariamente.
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário