Avenida São Sebastião: sonho de consumo do resto da cidade! (*)
A cidade de Parnaíba-PI se destaca entre tantas belezas, pelo alinhamento de largas ruas e avenidas, com destaque à Avenida São Sebastião e ao bairro Nova Parnaíba. Futuro que foi projetado pelo Intendente Constantino Correia que governou a cidade pelo breve tempo de janeiro de 1913 a dezembro de 1914.
Considerando-se mais de 100 anos passados, impressiona a visão futurista que pensava a cidade num desenho arrojado de ruas largas. O bairro Nova Parnaíba (antigo Caatinga de Cima) e o início de Avenida São Sebastião (Capitão Claro) foram esboçados pela brilhante visão de Constantino Correia. Posteriormente, diversos prefeitos foram dando continuidade à urbanização até o que temos hoje, como foi o caso do Prefeito Dr. João Silva que fez uma boa parte da pavimentação e canteiro central da avenida.
Cartão Postal da cidade a Avenida São Sebastião tem uma etapa a ser concluída até a Lagoa do Portinho, permitindo-lhe uma extensão de aproximadamente 11 km, fato que nos daria o título da maior avenida em linha reta. Superando a Avenida Teotônio Segurado em Palmas (TO), que possui um trecho de 10,2 km e a Avenida Canxangá em Recife-PE, a segunda mais longa, com percurso totalmente reto de aproximadamente 6,2 km.
Nossa avenida tem merecido ao longo das últimas gestões uma atenção especial, onde os serviços de limpeza, recapeamento asfáltico, caiação dos meios-fios e, sempre por ocasião das festas de fim de ano, decoração natalina. Fato inobservado às demais avenidas e ruas mais periféricas.
Não fosse a forma adotada e a intenção de cuidar da avenida em detrimento de ações básicas das mais diversas necessidades do dia-a-dia do parnaibano, seria elogiável tal iniciativa. Não é preciso ir muito longe da famosa avenida para encontrarmos vidas sofridas e logradouros públicos desprezados.
Outro aspecto a se observar diz respeito à forma de uso e ocupação dos espaços públicos (canteiro central). Historicamente ocorreu e ocorre um loteamento dos espaços sem a devida regulamentação. Falta uma legislação que discipline a forma de aquisição do espaço (licitação), seu uso e taxação.
Os gastos utilizados para maquiar essa área nobre são inversamente proporcionais ao que falta de básico na grande maioria dos bairros da cidade. Não que se devam desprezar estes espaços, mas é necessário redistribuir a aplicação de recursos com ações básicas que melhore diretamente a vida das pessoas. A prioridade para a gestão deve ser o que interessa primeiro às pessoas. Antes, o cuidado deveria ser com aquilo que é urgente, como a saúde e a educação que deveriam receber mais atenção do poder público.
Sob o pretexto de cuidar da cidade, maquiam-se algumas ruas e praças. Cuidar da São Sebastião agrada aos olhos da classe média e dos turistas, porém não vai ao encontro da situação de penúria a que está submetida grande parcela da população desta cidade.
Merece discussão: como estão aplicando os recursos públicos? Em que nível de responsabilidade se prioriza os gastos? Qual a transparência dada à gestão? Como o Poder Legislativo acompanha a gestão?
Parnaíba vive uma situação onde o desprezo ganhou proporções gigantescas e a consequência disso atinge a todos, mais profundamente àqueles que não têm assegurada as condições mínimas de vida digna e ao conjunto da sociedade que sofre as consequências pelo avanço da violência como resultante das desigualdades sociais. Milhares de famílias invisíveis aos olhos oficiais que precisam ser “reconhecidas”!
Coube ao sociólogo alemão Axel Honneth ter suscitado os debates sobre a noção de “reconhecimento". Em La lutte pour la reconnaissance (A luta pelo reconhecimento), assim como em La société du mépris (A sociedade do desprezo).
O reconhecimento é um elemento extremamente importante para o bem-estar dos indivíduos modernos, deve-se dar especial atenção às injustiças que se manifestam por meio do não reconhecimento e desprezo sociais. Como estamos olhando para a nossa gente? O que se pratica para além do discurso demagógico? Como se mobilizam as classes sociais para reivindicarem seus direitos? Como o poder se institucionaliza? A quem serve?
Não seria, pois, exagero dizermos que a questão do reconhecimento dos direitos e da identidade de grupos minoritários marcados por estigmas e desprezo social é fundamental para a consolidação da democracia e a ampliação da igualdade entre nós.
A cidade de Parnaíba está sofrendo um processo de transformações simbólicas que, se não forem capazes de transformar a situação material dos segmentos mais necessitados da população, está modificando a forma como a sociedade vê-se a si própria e, sobretudo, como determinados grupos veem-se em relação às hierarquias sociais vigentes. Só a classe política não percebe isso, com raríssimas exceções.
Que a Avenida São Sebastião, orgulho da nossa gente, símbolo de grandeza da terra seja instrumento de reflexão a esse povo ordeiro que deseja silenciosamente a mudança que virá!
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano. Avenida São Sebastião: sonho de consumo do resto da cidade! (*)
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